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Por que cobrir exposições agropecuárias é cada vez mais um desafio?

A Rede Agrojor – Rede Brasil de Jornalistas Agro promoveu nesta terça-feira (18) um workshop dedicado aos desafios e oportunidades da cobertura de exposições agropecuárias. A Rede Agrojor convidou para a mesa de debates Schubert Peter, editor da Revista Cultivar, e Enio Campoi, fundador e sócio-diretor da Mecânica de Comunicação Estratégica, ambos com larga experiência nesse tipo de jornalismo. O workshop foi mediado por Mariele Previdi, diretora da Rede Agrojor. No Brasil são realizadas centenas de exposições agropecuárias por todo o país. Entre elas, eventos obrigatórios no calendário das plataformas de comunicação, como Agrishow (Ribeirão Preto, SP), Expointer (Porto Alegre), Show Rural Coopavel (Cascavel, PR), Tecnoshow Comigo (Rio Verde, GO), Bahia Farm Show (Luís Eduardo Magalhães, BA), ExpoZebu (Uberaba, MG), Femec – Feira do Agronegócio Mineiro (Uberlândia, MG), Fenasucro & Agrocana (Sertãozinho, SP), Parecis SuperAgro (Campo Novo do Parecis, MT), ExpoDireto Cotrijal (Não-Me-Toque, RS), Expolucas (Lucas do Rio Verde, MT), além de outras. Os desafios ocorrem nos grandes eventos e também naqueles de caráter mais regional.   Infraestrutura e desafios logísticos Entre os principais temas abordados, destacou-se a infraestrutura oferecida aos jornalistas nas feiras do setor. Campoi, por exemplo, ressaltou a evolução da Agrishow, a mais tradicional e maior feira de máquinas e tecnologias do país, que ocorre em Ribeirão Preto (SP), e que serve de exemplo dos desafios.  Ao longo dos anos, desde pequenas salas de imprensa até espaços mais estruturados foram destinados ao trabalho, embora tenha havido retrocessos recentes. “No passado, chegamos a ter um espaço amplo e estruturado para a imprensa, com auditório, computadores e até restaurante próprio para os jornalistas. Infelizmente, isso foi sendo reduzido ano a ano”, lamentou Campoi. “O papel da assessoria de imprensa é brigar para garantir condições mínimas para que o jornalista desenvolva bem o seu trabalho.” Peter complementou, apontando os desafios logísticos para cobrir eventos em cidades que não comportam o público esperado, encarecendo custos de deslocamento e hospedagem. “Muitas vezes, temos que nos hospedar a 50 ou 60 km do local do evento, o que compromete o ritmo de cobertura e aumenta os custos”, disse. Ele também ressaltou a dificuldade de priorizar pautas diante da grande quantidade de expositores e conteúdo. “Com tantos lançamentos e eventos simultâneos, precisamos escolher a dedo o que cobrir, o que nem sempre agrada a todos.” Concorrência com influenciadores e mudança de foco das feiras Outro ponto discutido foi a mudança de foco das feiras, que têm investido mais em influenciadores digitais do que nas plataformas de notícias. No caso da Agrishow 2024, por exemplo, a estrutura oferecida aos jornalistas foi reduzida, enquanto foi montado um lounge exclusivo para influenciadores. “É um erro estratégico, porque a imprensa tem um papel fundamental na disseminação de informações sérias e relevantes”, criticou Campoi. “Os organizadores precisam compreender que a cobertura da imprensa é essencial para ampliar a visibilidade do evento e das inovações apresentadas”, destacou Peter. A relação entre jornalistas e assessorias de imprensa A relação entre jornalistas e assessores também foi tema do debate. Peter e Campoi falaram da importância da preparação dos porta-vozes das empresas para atender à imprensa e a necessidade de planejamento prévio para otimizar a cobertura. “Muitas empresas ainda tratam a imprensa como um incômodo, quando deveriam enxergar como uma aliada”, afirmou Campoi. “Jornalistas precisam de informações bem organizadas e de acesso rápido aos porta-vozes. Quando isso não acontece, as matérias acabam ficando comprometidas”, alertou Peter. O futuro da cobertura de feiras agropecuárias Ao final do workshop, foi sugerida a criação de um fórum para reunir jornalistas, organizadores de eventos e executivos de comunicação das empresas expositoras. O objetivo seria promover um espaço de diálogo e sensibilização sobre a importância da imprensa na cobertura de eventos agropecuários. “Sem esse diálogo, as feiras correm o risco de se tornarem apenas vitrines comerciais, perdendo sua relevância enquanto fonte de informação para o setor”, concluiu Campoi. A discussão reforçou que, apesar dos desafios econômicos e estruturais, a cobertura jornalística segue sendo fundamental para a disseminação de informações relevantes sobre o setor agropecuário. Todo o conteúdo do workshop fica disponível para os associados da Rede Agrojor, em breve no seu site.

Desconhecimento e equívocos travam a comunicação do agro brasileiro

Ao longo de pouco mais de três décadas atuando na área de comunicação e, eventualmente, no marketing (tenho as duas formações), vi muita gente necessitando de uma coisa, mas comprando outra (e vice-versa). No âmbito da comunicação, existe ainda muito desconhecimento sobre o que é publicidade e como funciona o jornalismo, por exemplo. Isso vale para cidadãos, pequenas empresas e até grandes conglomerados. No agro, esta confusão não é diferente e possivelmente seja mais acentuada em virtude das fortes necessidades que diversas cadeias produtivas têm em informar e colocar seus produtos nos mercados interno e externo. Quando o assunto é comunicação e marketing, o segmento vira e mexe considera um como sinônimo do outro. E não é assim. Isso não quer dizer que o marketing e a comunicação não possam trabalhar juntos. Ao contrário.  Em inúmeras situações é o que acontece, pois se complementam e se apoiam em vários aspectos. Mas a não compreensão de suas funções e aplicações específicas tende a levar ao mal uso e dispêndio financeiro. Eu já vi iniciativa com orçamento de R$ 18 milhões para “mudar a imagem do agro”. Pura utopia! O dinheiro foi embora e nada aconteceu. Além disso, eu me preocupo muito quando “pitacos” decisivos sobre ações de promoção da imagem do agro brasileiro são dados por quem não tem a vivência no campo e nunca ‘pisou em bosta de vaca’! É bom esclarecer que no escopo empresarial, boa parte das vezes a comunicação atua dentro da aba do marketing. No entanto, existem muitas organizações com organogramas fixando a comunicação diretamente ligada à diretoria/presidência, ficando o marketing junto à diretoria comercial. Marketing e venda A definição mais simples e objetiva que conheço (e adoto) para marketing é “fazer você comprar de mim”. Podemos, portanto, entender que o marketing trabalha para viabilizar a venda, seja de um produto, de um serviço ou mesmo de uma ideia. Na política, por exemplo, busca convencer você a ‘comprar’ um programa partidário, de governo e/ou a imagem/conceito de um candidato. Em muitas situações este procedimento precisa se repetir para atingir um objetivo. É o caso do marketing no agro.  Ele é ferramenta fundamental, por exemplo, para que o mercado compre a ideia do perfil sustentável da pecuária brasileira. Tanto para quem está lá fora (mercados internacionais) quanto aqui dentro (consumidor brasileiro). Vencida esta etapa, o marketing continua atuando para vender a mercadoria (carne, sobretudo) atrelada à sua origem e condições de produção. Comunicação e reputação Mas experimente vender algo que esteja com a imagem maculada, fraca, péssima ou com nenhuma reputação. Será complicado! Antes de qualquer coisa é necessário botar em campo os recursos da comunicação (dentre eles as habilidades dos profissionais de publicidade e propaganda e de jornalismo, por exemplo). É bom deixar claro que criar reputação para um produto, serviço ou ideia, não funciona de forma pontual. Exige um processo, ou seja, não se faz do dia para a noite e deve ser uma constante. Já vi muito negócio dispensando a comunicação para se arrepender no primeiro ‘incêndio’. A comunicação vai muito além do que funcionar como bombeiro em gestão de crise. Além disso, pressupõe uma via de mão dupla de informações. Do emissor para o receptor e o retorno deste para o emissor (feedback). Portanto, pra vender bem, reputação é fundamental. “Mas Ariosto, meu produto é bom. Já temos mais de 100 mil seguidores no Instagram”. Popularidade é coisa boa, mas não significa necessariamente reputação e respeito. Além disso, seguidores e likes em redes sociais são termômetros efêmeros, recomendáveis para uma leitura de momento. O “social mídia” é uma nova peça da engrenagem, mas longe de ser a solução. Atende uma natural e justa demanda das organizações para se manterem vivas e ativas nas mais diversas plataformas digitais, desde que se tenha conteúdo original e estratégico à disposição. Por isso é importante que as organizações profissionalizem sua comunicação. Para galgar e manter prestígio, renome e assegurar um fluxo transparente de informações entre a marca e a sociedade, quem já trabalhou com bons profissionais não abre mão da sua assessoria de imprensa. Do empresário ao jogador de futebol; do médico ao artista; do frigorífico ao produtor rural (sim, seja agricultor ou pecuarista – pessoa física ou jurídica). Converso e convivo com muitos produtores. É praticamente consenso entre eles de que o agro brasileiro consegue até se comunicar entre si (dentro da porteira, por exemplo), mas com a sociedade, ainda é um desastre. O assunto é amplo, importante e não se pode esgotá-lo em um artigo. É fundamental o debate e os esclarecimentos. Lá fora ainda existe uma visão por vezes demoníaca sobre alimentos produzidos no Brasil. Nosso agro precisa fazer a sua parte e investir em reputação. Texto por Ariosto Mesquita Ariosto Mesquita é jornalista, pós-graduado em Administração de Marketing e Comércio Exterior e mestre em Produção e Gestão Agroindustrial. É consultor de comunicação, colaborador da Revista DBO, membro fundador da Agrojor (Rede Brasil de Jornalistas Agro) e ex-professor de Comunicação (UFMS, Estácio de Sá, UCDB e UNIP) Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da totalidade dos membros da Rede Brasil de Forbes Brasil e de seus diretores.